quinta-feira, dezembro 13, 2007


Nelson de Sa, na Folha: "Mais Choque - Do confronto na favela diante da Globo SP, o JN não deu as cenas de crianças e mulheres. Record e Band, sim. E o JN questionou os favelados pelo trânsito e pelos barracos vazios."A partir disso, um leitor quer saber se a política editorial da TV Globo é contra os favelados. Sei lá. Não existe um livro e, se existisse, provavelmente eu não teria tido acesso a ele. Existe um preconceito e se manifesta, consciente ou inconscientemente. O jornalismo é hoje uma atividade de classe média. Já foi reserva de mercado de pé-rapados.A Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde me formei, hoje é formadora de mão-de-obra barata para tocar as redações. A molecada fala três idiomas mas nunca andou de trem de subúrbio, nem por curiosidade. Existem exceções, aqui e ali. Mas a falta de compromisso público é evidente.Os meninos e meninas querem as dicas para ser correspondente. Todo mundo quer começar a carreira como correspondente internacional. Não há nada de errado nisso, mas acho que começar pela periferia de São Paulo pode ajudar mesmo quem fala alemão. Você pode optar por ajudar a criar uma realidade paralela, que é o que está acontecendo cada vez mais na TV brasileira. Como relax para quem chega em casa cansado, depois de duas horas chacoalhando em um ônibus, tem lá sua função anestésica.A TV Globo de São Paulo fica na avenida Berrini e tem várias favelas por perto. Os favelados serão expulsos não pela TV Globo, mas pela valorização do mercado imobiliário. Aperta aqui, avança ali, parece claro que serão mandados para longe. Portanto, não acredito que a Globo seja contra os favelados, mas pode ser contra favelas por perto dela.Há a suspeita de que o seqüestro de um repórter da TV Globo pelo PCC tenha sido organizado a partir de uma favelinha na vizinhança. É uma suspeita que se encaixa perfeitamente no preconceito, no "nós contra eles", no simplismo de favelado=bandido. Ainda que a sociedade acredite na necessidade de remover uma favela, seria essencial debater as questões importantes de São Paulo e do Brasil: os sem-teto, a favela, o uso da polícia para fazer "política social" e o MAIOR problema quando se trata especificamente de São Paulo, que é o trânsito.Porém, no caso específico da Globo, além de não existir o espaço editorial para esse tipo de debate em uma concessão pública - ou seja, que pertence a todos os brasileiros, favelados inclusive - tratar desses temas em ano pré-eleitoral exigiria romper a aliança da emissora com o governo José Serra, os tucanos e os democratas paulistas.Não quero dar uma resposta simplista. A TV Globo é uma gigantesca estatal, tem tantas tendências quanto o PT. O Campo Majoritário na TV Globo é tão ou mais leninista que o José Dirceu na vitória. O Ministério do Interior, também conhecido nos corredores como de Combate aos Vícios, já manifestou por escrito sua oposição à urbanização das favelas no Rio de Janeiro. É contra as cotas raciais e "abafa" esse debate internamente, já que acredita que as cotas poderão provocar uma guerra civil no Brasil. Eu mesmo, que sou contra as cotas impostas de cima para baixo, jamais poderia levantar esse debate internamente. A TV Globo é contra as cotas e acabou, mesmo que o papa for a favor. Se o papa disser que é a favor, a TV Globo não noticia. E as cotas que resultam de um consenso entre estudantes, professores e funcionários de uma universidade? Eles são contra, até porque são contra a autonomia universitária e os livros didáticos que não reproduzem o dogma ministerial."Remoção de favela provoca congestionamento recorde", diz a manchete do caderno Cotidiano, da Folha. É jornalismo mauricinho, em que o automóvel vale mais que gente. Fiz as contas e, na ponta-do-lápis descobri que, no meu caso, é mais barato não ter automóvel do que tê-lo em São Paulo. Vendi o meu, para espanto de amigos. Dá para andar a pé, de metrô, de táxi e de ônibus. Menos stress. Menos gasto. Mais saúde (?) Ganhei duas horas por dia para ler.O trânsito afeta ricos, pobres, negros, brancos, favelados e dondocas. É um CAOS. Mas caos, no Brasil, é palavra reservada para problemas federais: caos aéreo, por exemplo.Por todos os motivos que apontei acima, o espaço entre o Jornalismo da mídia corporativa e o Brasil real só faz crescer. O compromisso "deles" é de falar e escrever para "eles". E, embora a favela veja a Globo, a Globo faz de conta que não vê a favela. Nem acho que isso prejudique a audiência, uma vez que depois de duas horas chacoalhando num ônibus tem muita gente feliz de embarcar numa realidade paralela.Seria simplista dizer que a Globo é contra as favelas. No Rio de Janeiro a política editorial da empresa é claramente favorável à estratégia de confronto militar do governador Sérgio Cabral, que tem e dá apoio ao governo Lula. O Ministério do Vício da emissora, como escrevi acima, já se manifestou por escrito contra a urbanização das favelas. Não pediu a remoção, mas se é contra a urbanização qual é a proposta? Rever a política que atrai gente para a periferia das grandes cidades? Debater as políticas regionais brasileiras? Fazer a reforma agrária? Descentralizar o poder econômico? Nada disso é debatido na TV brasileira. Os melhores debates estão, por incrível que pareça, na TV Câmara e na TV Senado, embora os atores sejam péssimos.Minha esperança é ver alguns gatos-pingados inconformados. É um favelado que vai na lanhouse. Outro que se forma na universidade. O pobre começa a ter acesso a outras fontes de informação. O cara que compra a Veja também compra a Carta Capital. O leitor da FolhaOnline descobre o Fazendo Media, do Marcelo Salles. O Brasil vai mudando, ainda que devagar, sob os pés dessa gente. Eu me divirto ao ouvir, através de amigos, o terror causado pelo Picapau, o desenho animado campeão de audiência. Fica todo mundo sem entender direito o fenômeno. Já perguntaram a quem assiste o Picapau? Perguntar? Eles não perguntam nada. As respostas já estão todas prontas.A fórmula deles é simples: eles falam e a gente escuta. Eles decidem e a gente obedece.

Faltou um detalhe "adolescente" na lista do Paulo Henrique Amorim


Assisti ao início do Jornal Nacional de ontem na padaria perto de casa. Dois blocos oficialistas, começando pelo crescimento do PIB. Um dos profissionais envolvidos na cobertura previa, durante o primeiro mandato de Lula, que a economia brasileira entraria em colapso e o dólar bateria em 3 reais. Como eu havia recém-chegado ao Brasil, fiquei esperando o dólar disparar. Perdi dinheiro. Isso dá a vocês uma idéia de como a preferência partidária cega as pessoas.

Eu dizia que foram dois blocos oficialistas, como nos melhores tempos do regime militar. Apareceram dois ministros do Lula em uma só reportagem, a Marina Silva e o Celso Amorim. Isso depois de reportagens sobre o PIB e a pesquisa que mostra 65% de aprovação ao jeito Lula de governar.

Porém, é bom lembrar que não estamos em período eleitoral. Sabemos da capacidade que a mídia corporativa, que promove interesses partidários e econômicos derrotados na eleição de 2006, tem de definir o que se costuma chamar de matriz de opinião.

Dou um exemplo banal. O funcionário da padaria que ligou a TV no Jornal Nacional queria saber o resultado da votação da CPMF. Ele estava preocupado com o resultado da votação. Uma pessoa simples torcia pela derrubada do imposto do cheque. Eu também sou contra todos os impostos. Acho absurdo o IPTU paulistano e espero apoio de tucanos e democratas para reduzí-lo em 2008.

Mas perguntei ao funcionário da padaria quanto ele pagava de CPMF por ano. Como não usa cheque, ele não paga CPMF diretamente. Quanto a Globo vai economizar em CPMF? Quanto o pessoal da FIESP vai deixar de pagar?

Por que o rapaz da padaria passou a defender uma causa que diz respeito muito mais aos grandes pagadores, que estão faturando rios de dinheiro com o crescimento econômico, enquanto ele não tem aumento de salário? Simples: a campanha contra a CPMF foi conduzida de forma eficaz pelo partido da mídia.

Qual foi a manchete do jornal Destak, distribuído de graça nas ruas de São Paulo, no dia que antecedeu a votação?

"Famílias gastam mais com CPMF do que com arroz, feijão e leite".

Quanto foi a arrecadação com a CPMF em 2007?

Quarenta bilhões de reais.

Quanto os brasileiros gastaram nos itens básicos?

Gastos com arroz, feijão e leite: 25 bilhões de reais.

Porém, vejam a maneira criativa com que um estudo da Federação de Comércio de São Paulo foi apresentado pelo jornal, que é lido por motoristas de táxi, passageiros de ônibus e metrô, já que é de grátis e diz atingir meio milhão de paulistanos por dia: "Os brasileiros gastam, por ano, 60% mais com a CPMF do que com arroz, feijão e leite juntos." Quais brasileiros eles não explicaram. Não explicaram que o gasto maior com CPMF é daqueles que mais fazem transações financeiras, o que não é exatamente o caso do funcionário da padaria.

E agora, que caiu a CPMF, os preços do arroz, do feijão e do leite vão recuar? Alguém acredita nisso?

Os partidos da mídia, em suas diferentes colorações, não ganham eleição sozinhos. Porém, tem capacidade para fazer aquele constante jogo de desgaste, apresentando informações incompletas, distorcidas, manipuladas e omitindo dados essenciais para o entendimento de um assunto. Na capa da Folha de S. Paulo, acompanhando os dados do crescimento do PIB em seis países: China, 11,5%; Índia, 8,9%; Venezuela, 8,7%; Peru, 8,4%; Rússia, 7,6% e Brasil (com destaque, em vermelho), 5,7%. A Folha não conseguiu achar país que tenha crescido menos que o Brasil no período.

Porém, quando se tratava de criticar Hugo Chávez pré-referendo, o jornal nunca deu destaque ao fato de que a economia da Venezuela estava crescendo mais que a brasileira. Atribuíam isso, unicamente, à alta do preço do petróleo, assim como diziam que o Brasil só crescia por causa do alto preço das commodities.

O governo Lula fincou o pé no centro político, o que parece ser uma boa idéia do ponto-de-vista meramente eleitoral.

Porém, o risco de fazer todo tipo de acordo "por cima" aliena muita gente que pode ser importante em 2008 e 2010.

Qual é a garantia de que a TV Globo, no período pré-eleitoral de 2008, não vai adotar exatamente a mesma postura de 2006 - que foi de pregar "imparcialidade" para fora enquanto sutilmente "deslocou" o noticiário para favorecer o PSDB? Alguém já esqueceu das "entrevistas" do Alexandre Garcia no programa da Ana Maria Braga?

A máquina que gera a matriz de opinião vai dar um descanso, que ninguém é de ferro. Credibilidade é um bem armazenável no país da memória curta. Não há nenhuma garantia de que essa máquina, a serviço do neoliberalismo econômico, não vá voltar à velocidade total nos meses que precedem a eleição de 2008.

Virá reforçada pelos jornais gratuitos distribuídos nas grandes cidades brasileiras? Quem não quer gastar 2,50 pela Folha de S. Paulo lê esses jornais. Lê no ônibus, no metrô e leva para casa. Enquanto isso, a assessoria de Lula parece acreditar nos "acertos por cima".

O presidente pode ter 65% de aprovação, mas age como se tivesse 10%. Recua ao menor empurrãozinho. Vamos ver qual será o resultado disso em 2008 e além.

Publicado em 13 de dezembro de 2007

Eu não concordo com os leitores que acham que o mundo acabou por causa da derrota da CPMF. É óbvia a tentativa de sabotagem, mas não se pode dizer que o PT não faria o mesmo se estivesse na oposição. O Brasil não vai deixar de crescer por causa da CPMF. As condições internacionais permanecem basicamente as mesmas, apesar da crise financeira grave nos Estados Unidos, que é apenas expressão da decadência relativa do poderio econômico e militar americano sob o governo Bush. A crise imobiliária é apenas um sintoma da doença em um país que nunca torrou tanto dinheiro com gastos militares. Com a possível derrota dos republicanos em 2008 uma estaca será fincada no vampiro neoliberal. Até lá é segurar a onda, já que o vampiro não morre sem espalhar sangue para todo o lado. Bush vai caçar alguma guerra em algum lugar. Venezuela? Alguma os republicanos vão aprontar para não perderem o poder.

Acrescentado em 13 de dezembro de 2007

O Paulo Henrique Amorim escreveu:

"No auge da crise do “mensalão” (que ainda estar por provar-se), Duda Mendonça confessou que recebia dinheiro do PT no exterior.
. Naquele momento, como se sabe, a oposição pensou e quase pediu, na hora, o impeachment do Presidente Lula.
. O Presidente Lula quase caiu.
. E só não caiu, porque a oposição, sob a liderança do senador Agripino Maia, do PFL, preferiu seguir a linha do “sangramento”.
. Em sucessivas reuniões no modesto e diminuto apartamento do Farol de Alexandria em Higienópolis, em São Paulo, a oposição discutiu a crise do mensalão (que ainda está por provar-se).
. E a oposição se deixou levar pela tese do “sangramento”.
. Quem defendeu o “sangramento” foi o Farol.
. O Farol não queria que Lula caísse antes do fim do primeiro mandato.
. O vice José Alencar assumiria e o processo político poderia se desenvolver com razoável normalidade.
. O Farol queria fazer Lula sangrar, sangrar até a última gota de sangue até chegar à eleição sem forças.
. Desmoralizado, enfraquecido, Lula perderia.
. Quem o esmagaria nas urnas ?
. O Farol de Alexandria, que seria conduzido ao Palácio do Planalto nos braços de um povo sedento de ordem e progresso – sobretudo progresso, que é o ponto forte dos tucanos. (*)
. É essa tese do “sangramento” que o líder Arthur Virgilio Cardoso abraçou.
. FHC não tem compromisso com o PSDB.
. FHC não tem compromisso com Serra.
. FHC não tem compromisso com Aécio.
. FHC não tem compromisso com o Brasil.
. O compromisso de FHC é com FHC."

MEU COMENTÁRIO:

Faltou dizer que o Fernando Henrique Cardoso não tem compromisso nem mesmo com o filho que teve com a jornalista da TV Globo, que já adolescente mas ainda não leva o sobrenome do pai. Pelo menos o Miterrand assumiu a filha que teve fora do casamento desde cedo e até apresentou a menina ao Fidel Castro, o que era um sonho da adolescente.

A Ditadura Militar(golpe de 64)

História trágica: Ouça como foi pedida, na Casa Branca, a cabeça de um presidente brasileiro



Uma conversa telefônica entre o então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, e um de seus assessores, George Bell, subsecretário de Estado, em março de 1964, deveria fazer parte do currículo de História do Brasil.

Agora, que a internet facilita a transmissão e a consulta a dados em áudio e vídeo, a conversa poderia ser usada tanto para ensinar inglês quanto para ensinar História e Geografia.

Os dois discutiam medidas políticas e militares para garantir o sucesso da "Revolução Redentora". Graças ao fato de que os americanos prezam a preservação de sua própria História, a gravação da conversa hoje pode ser ouvida por qualquer um.

Um dos momentos mais bizarros dela se dá quando Johnson, que não parece aceitar um resultado que não seja a derrubada do governo brasileiro, pergunta ao assessor quantos são os estados no Brasil. O assessor consulta o assessor do assessor e responde 19, depois muda para 21, depois diz que não importa, os estados mais importantes estavam com eles (Guanabara de Carlos Lacerda, São Paulo de Adhemar de Barros e Minas Gerais de Magalhães Pinto, o homem do guarda-chuva do Banco Nacional, um dos primeiros patrocinadores do Jornal Nacional).

Os assessores de Johnson acreditavam que o Brasil estava a caminho de se tornar um país comunista em pleno quintal americano. Um novo Vietnã? Outra Cuba? O que ninguém te conta é que Johnson concorreria à reeleição naquele ano, tinha herdado o poder depois do assassinato de John Kennedy e a Guerra Fria corria solta. Johnson queria se eleger presidente, como qualquer outro político faria. Qual era o maior risco para ele - e continua sendo para qualquer presidente americano? Ser taxado de fracote, de molenga com o "inimigo", seja ele Fidel Castro, bin Laden, Hugo Chávez ou o Zebedeu.

Johnson deu gás à guerra do Vietnã, o que em 1968 custaria a ele a carreira política. Mas, quando recebeu a chamada, estava de olho em seus financiadores de campanha e queria evitar a qualquer custo a acusação de "perder" o Brasil para o bloco soviético. Johnson, é óbvio, conhecia o Brasil de "ouvir dizer". O negócio dele era a reeleição.

A TV Viomundo, sempre preocupada com a sua informação e diversão, proporciona a você este momento histórico, em que um caipira do interior americano decide o destino de milhões de brasileiros.

JOHNSON PEDE A CABEÇA DE JOÃO GOULART